Tem tempo que venho dizendo que o Deftones era a melhor banda da atualidade. Embora eles possam não te agradar logo de cara, muitas vezes é preciso ir ouvindo aos poucos. Não é um som pra qualquer um, ele soa de forma complexa mesmo não sendo, e acredito que isso se deva ao fato do incrível número de elementos diferentes que da pra encontrar na música deles. Principalmente porque as canções são puro feeling. É como se exigisse um certo estado de espírito para ouvi-los, pois tudo é feito de uma forma incrivelmente bonita. Sim, bonito a ponto de você quase chorar de tão incrível e profundo que a banda consegue ser. Isso é algo orgânico, natural, sendo o seu grande diferencial e que leva todo mundo a exaltação máxima, podendo vir por parte de uma melodia, letra, virada de batera ou até mesmo um efeito de sintetizador.
Sempre achei impressionante a capacidade dos californianos de produzirem álbuns ótimos e como mantiveram esse padrão de qualidade por tanto tempo. Você tem desde o importante 'Adrealine', passando pelo clássico 'White Pony' e quando você acha que não tem como melhorar mais, vem um 'Diamond Eyes' e 'Koi No Yokan' pra fazer você dizer: "Puta merda, eles não erram nunca". E eles erraram, pode não ser aquela porcaria toda, mas erraram. 'Gore' é muito abaixo do que vinha sendo feito e do que se está acostumado do Deftones. É um disco mediano, que fica apenas no arroz e feijão (salvo algumas exceções, como 'Phantom Bride'). Como se faltasse alguém pra chegar e falar: "Volta lá pro estúdio de novo, bora fazer isso direito, meu filho!".
Eu fiquei empolgado quando lançaram o primeiro single, 'Prayers/Triangles'. Tava tudo dentro dos conformes até sair a declaração do guitarrista Stephen Carpenter dizendo que "não gostou da guitarra nesse disco e que a banda estava o abandonando" junto com a música 'Doomed User' que não empolgava muito. É um ponto do qual eu concordo com Steph. 'Gore' tem o som de guitar mais feio de toda a discografia da banda. Um exemplo que ilustra isso é em '(L)MIRL', onde a música até tem uma construção razoável no início e quando chega na hora da parte bonita que você tanto espera entra umas notas de guitarra bem borocoxô e tu fica:
Ma-mas... é só isso aí?! |
Só que esse não é o único problema. A dinâmica que sempre foi uma peculiaridade do Deftones é extremamente mal trabalhada e o DJ Frank Delgado fica totalmente descartável. Falta o algo a mais, como em 'Acid Hologram', por exemplo. Parece uma banda tentando se encontrar e que sai experimentando a torto e a direita. É um puta anti-clímax sendo que o disco abre logo com 'Prayers/Triangles', justamente uma das poucas que se salvam. Mesmo sendo uma das mais pesadas, a faixa título também é desanimadora. O excesso de efeitos de reverberação na voz de Chino Moreno não funciona e a música nitidamente se alonga mais do que deveria.
Recentemente, li uma entrevista onde Chino dizia que o quinto álbum foi muito complicado de ser feito porque havia muita tensão entre os membros e isso resultou em uma produção bastante preguiçosa. Pouco depois, ocorreu o acidente de carro com o baixista Chi Cheng, que infelizmente veio a falecer e Sergio Vega entrou no lugar. O vocalista claramente diz que esse triste fato fez com que unisse os caras de novo, resultando em dois grandes discos posteriormente. Eu também reparei que os perfis das redes sociais da banda têm postado muitas entrevistas tentando explicar o que foi feito e reviews dizendo coisas positivas sobre o novo trabalho, achei isso curioso porque não lembro de ocorrer algo assim na época do 'Koi No Yokan' que é excepcional. Se eu estiver enganado, por favor, me corrijam nos comentários.
A minha teoria é de que, assim como em 'Saturday Night Wrist', eles não gostaram muito do que foi feito em 'Gore'. A produção chegou a parar no meio do caminho enquanto a banda saiu em turnê sem tocar nenhuma música nova, o motivo alegado foi de que o grupo não aprovou a mixagem feita pelo produtor Matt Hyde. Acredito que esse seja mais um CD feito sob tensões entre os membros e o resultado foi uma produção totalmente feita nas coxas e que ninguém estava disposto a sair do arroz e feijão de sempre, só que dessa vez deixaram as panelas queimarem um pouquinho.