Estava dia desses pensando no que escrever e me deparei com este texto aqui da Metal Sucks sobre bandas que a princípio usavam apenas vocais guturais (ou rasgados) e com tempo acabavam incorporando vocais melódicos (ou limpos), gerando uma reação não muito boa dos fãs mais tradicionais. Logo de cara pensei em bolar uma espécie de texto resposta, mas quando criei uma nova postagem comecei a me fazer perguntas sobre várias coisas e percebi que esse assunto poderia render algo muito mais... complexo, que iria requerer algumas pesquisas e opiniões de outras pessoas. Na verdade, a pergunta que eu queria responder é: em que momento da vida passei a ouvir este tipo de coisa?
É interessante notar que, com exceção de uma minoria que cresceu ouvindo as bagaceiras da vida, muitas pessoas que gostam desse som passaram por um processo de amadurecimento musical que certamente quase ninguém sequer lembra de levar em consideração. E esse processo começa já quando criança, de músicas que marcam na infância passando pela sua fase de adolescente rebelde até chegar na sua idade atual. Todo seu conhecimento musical acumulado durante a vida é importante pra entender o que te levou a ouvir determinadas canções.
Sabemos que a música tem o poder de despertar diferentes sensações em cada um, pode ser alegria, tristeza, raiva, tranquilidade, medo, etc. E se você for adepto do Metal como eu, certamente já se deparou com reações do tipo "nossa, como você consegue escutar isso?" ou "isso é só gritaria, não dá pra entender o que tão falando". Por motivos óbvios, a primeira coisa que geralmente notam são os vocais nada tradicionais de bandas como Cannibal Corpse ou mesmo o Infant Annihilator do vídeo acima. É difícil explicar como nos sentimos pra essas pessoas que não escutam ou não estão habituadas a vocais "estranhos", guitarras pesadas e baterias desenfreadas. Pior ainda quando já existe um preconceito estabelecido, aí é que elas não vão querer entender mesmo. Alguns não suportam ouvir nada que soe mais agressivo aos seus ouvidos.
Refletindo sobre o meu gosto musical e ouvindo opiniões de conhecidos, percebi que muitas vezes bandas que não curtimos em uma primeira viagem acabam entrando na playlist tempos depois. Isso deve ocorrer porque, semelhante a quem não suporta nada muito pesado, nosso cérebro não estava preparado para receber aquelas informações. Mas, uma vez que essas informações foram processadas ou nos habituamos a elas de forma que isso passe a ser algo "comum", pode ser que nossa opinião mude quando escutarmos a mesma banda novamente.
“As melodias simples demais como, por exemplo, um batuque ou um simples dó-ré-mi-fá-sol-lá-si-dó, têm uma estrutura musical tão trivial que rapidamente deixam de estimular o cérebro a pressupor o próximo passo musical, perdem o interesse, logo, deixam de estimular o sistema de recompensa. Não obstante, a mesmice musical desses arranjos mais simples pode exercer um efeito rítmico, hipnótico ou torporoso no cérebro, mas não estimula o prazer pleno em desejar mais música.
Por outro lado, seqüências musicais muito complexas e difíceis de serem adivinhadas pelo cérebro, ou que não seguem algum padrão (normalmente de natureza cultural), são frustrantes para o sistema de recompensa. Por não oferecer prazer algum, a novidade musical complexa, estranha e bizarra é logo abandonada (Housel, 2002)”
Acredito que esse seja um dos principais motivos que muita gente passa a ouvir Death Metal, Deathcore, Black Metal ou qualquer que seja o gênero extremo. Quer dizer, a maioria que escuta esses estilos certamente já possuem uma bagagem do que é metal e muitos dos elementos presentes nessas vertentes possivelmente o ouvinte já estava familiarizado de alguma forma. Esses padrões, ou melhor, gostos que cada indivíduo desenvolve com o tempo o leva a buscar/procurar outras bandas com essas características, assim, encontrando esses mesmos - ou parecidos - elementos no metal extremo.
Óbvio, esse não é o único componente que pode fazer uma pessoa virar adepta da brutalidade excessiva. Outros fatores sociais e principalmente emocionais, já que muitas dessas músicas são uma forma de expressão diferente pra cada um que escuta (especialmente quando se trata de memória afetiva), também pesam. Mas a busca por essas similaridades em outros tipos de música, um timbre, uma melodia, um pequeno trecho que remeta a sua banda favorita, são alguns fatores que nos tornam fãs de inúmeras podreiras.
Em meu caso, por exemplo, lembro de quebrar preconceitos ao ouvir o Iowa do Slipknot e ter os miolos estourados quando descobri que vocais líricos podiam contrastar perfeitamente com vocais guturais em 'Cry For The Moon' do Epica. As alternâncias entre a calmaria e explosões do New Metal que me levaram a conhecer o Djent através de Periphery, Monuments e outros que quando me dei conta, já estava baixando a discografia do Suicide Silence, coisa que nunca imaginaria escutar algum dia.
Em meu caso, por exemplo, lembro de quebrar preconceitos ao ouvir o Iowa do Slipknot e ter os miolos estourados quando descobri que vocais líricos podiam contrastar perfeitamente com vocais guturais em 'Cry For The Moon' do Epica. As alternâncias entre a calmaria e explosões do New Metal que me levaram a conhecer o Djent através de Periphery, Monuments e outros que quando me dei conta, já estava baixando a discografia do Suicide Silence, coisa que nunca imaginaria escutar algum dia.
O Metal em si já é um gênero que contém muitas informações e mais ainda quando você vai para as extremidades. E talvez por isso ele estará eternamente no underground, tendo um ou outro lampejo em mídias mais mainstreans. Requer um certo estado de espírito e mental para escutar, sentir e entender todas essas infos que chegam até os seus ouvidos. Mas como meu primo disse uma vez: ou você para ou você só escuta coisa mais pesada. A julgar pelo meu caso, ele tem razão!