Existem momentos na vida que nos deparamos com coisas que,
muita das vezes, devido a nossa ignorância, jamais conseguiríamos imaginar ou
conceber o que nos é apresentado ou mostrado. Um conjunto de conceito e
estética que julgamos impossível de ser aplicado e é sintetizado em algo
funcional, que trabalha em perfeita harmonia. Um acontecimento desses
normalmente é bem mind blowing e nossas vidas passam a ser definidas
claramente em um antes e depois.
Se você é fã de Metal e não cresceu com uma definição muito
clara do que realmente é esse tipo de música, provável que boa parte do que
aprendeu foi uma descoberta quase que chocante. A primeira banda que ouviu,
vertentes que nos identificamos mais, a variedade de sons encontrados em uma
música, etc. Trazendo para nossa realidade abrasileirada, a menos que você
tenha sido criado nesse universo, poucos conseguem te explicar como um
gênero de música pode ser tão rico e mal visto pela maioria das pessoas.
Cria-se uma mística, rótulos – "rock do capeta"; “é só gritaria!“;
“não dá pra entender o que tão cantando” -, pra alguns um objeto feio, extremamente
perigoso e que deveria ser proibido.
Como muitos, cresci com essa visão de que era “o que jamais
deveria ser escutado, pois nada fazia sentido”. E, apesar de já estar tendo
contato com algumas bandas, por volta dos meus quatorze anos esse ainda era um
pensamento que permeava pela minha cabeça. Pra ser mais exato, o do “gritaria
sem sentido". Esse é um dos clichês mais clássicos que existem pra quem
escuta música pesada and also as EXTREMAMENTE pesadas. O instrumento que as
pessoas prestam mais atenção é sim a voz e por isso isso é o que mais possuem dificuldade de compreender, especialmente a questão estética de determinadas
técnicas.
Não necessariamente de efeito imediato, mas há bandas que se
tornam responsáveis por quebrar certas místicas e rótulos. A grande responsável
por me fazer entender como era possível gostar de vocais tão "feios” e
“endemoniados” foi o Epica. Não só isso, como mostrar também que é possível
entrelaçar gêneros que aparentavam ser completamente antagônicos para um jovem
adolescente.
Ouvir Cry For The Moon pela primeira vez foi tão
mind blowing que sequer consegui aceitar que era possível haver Death Metal e
música clássica tocando simultaneamente. Mas como se sabe, o cérebro gosta de coisas que já são familiares e quanto mais se escuta um som, mais ele tende a se acostumar com aquilo e menos estranho irá soar. E aí entra o papel
da beleza da música clássica e a suavidade da voz de Simone Simons. O grande
pulo do gato que me fez insistir em escutá-los, era justamente a parte da
qual estava habituado e que já conhecia anteriormente. Ouvindo apenas essas
partes, o gutural de Mark Jansen passou a ser cada vez mais comum.
Tamanho contraste entre o que sempre julguei como vocais bonitos e
feios até então e com o passar do tempo, isso me levou a sons que achava impossível um dia escutar, como Deathcore e Black Metal. Foi primeiro
ter visto extremos opostos atuando em uma dinâmica e nuances quase que em perfeição
para entender como gostar de música pesada. Foi a suavidade da beleza que me
fez amar a brutalidade!