Pop: Por que todas músicas são iguais?
Quantas vezes você ligou o rádio e, mesmo que não tenha dedicado muito da sua atenção ao que está sendo tocado, teve a estranha sensação de que a grande maioria das músicas era extremamente parecidas? Uma sensação de ser sempre a mesma batida, as mesmas vozes, o mesmo tema e de parecer não demonstrar muita sinceridade do artista em questão, no sentido de não ser algo natural, uma coisa orgânica que desse uma certa autenticidade para ele. E então, um processo de abstração e distanciamento ocorre, e você acaba por muitas vezes ignorando o que está ouvindo ou simplesmente desliga o rádio.
Grande parte da programação é dominada por cantoras pop, como Katy Perry, Taylor Swift, Demi Lovato ou quando no começo dos anos 2000, Britney Spears, Backstreet Boys e outros tantos adeptos da pop music que estouraram e passaram a dominar o topo das paradas musicais têm suas canções executadas a exaustão desde então. E por estarem em evidência, eles se tornam um ponto de referência e muitos outros buscam beber da mesma fonte. Isso implica que semelhanças serão absorvidas no meio do processo, pois sabe-se que este é o caminho para chegar ao topo da Billboard.
O formato Max Martin
Em volto a todo o glamour e fama que se estabelece após um grande sucesso, é natural que se pense que o artista gastou toda sua energia e empenho para compor um big hit e tende-se a exaltar a sua obra como o que há de melhor, justamente por ter se tornado extremamente popular. Mas, se o que é tocado a todo o tempo no rádio soa tão parecido, quem é a mente por trás disso?
Max Martin é um produtor sueco e se tornou o grande responsável por levar adiante os ensinamentos do também produtor musical, DenniZ Pop, falecido em 1998. Em meados dos anos 90, ambos trabalharam em diversos artistas suecos ou estrangeiros compondo e produzindo músicas para eles. Terceiro compositor com maior número de singles no topo das paradas e o segundo produtor com mais singles a chegar na primeira colocação (atrás apenas de George Martin), Martin é a mente por trás de músicas como '...Baby One More Time' (Britney Spears), 'Everybody' (Backstreet Boys) e 'I Kissed A Girl' (Katy Perry), apenas para citar alguns dos seus grandes êxitos. A fórmula mágica encontrada por DenniZ Pop e ainda mais aprimorada pelo seu pupilo, é balancear muito bem a melodia e refrão com uma batida, um ritmo, que seja o mais simples e agradável possível ao ouvinte. Que seja de fácil entendimento e que contagie, algo muito limpo e polido, muitas vezes recebendo um tom bem colorido. E um refrão - ou chorus - extremamente grudento, que martele na sua cabeça logo ao ouvir pela primeira vez. Tudo isso com uma letra que geralmente envolva o sentimento universal e mais complexo do ser humano, tratado da forma mais infantil possível: o amor romântico.
Segundo o jornalista John Seabrook em seu livro The Song Machine, músicas como essas são feitas de forma quase que industrializada. Uma equipe utiliza-se de um computador e da fórmula do sucesso que foi estabelecida. Ainda de acordo com Seabrook, “essas canções seguem quase uma receita, na qual a letra importa pouco e as batidas misturam, em suas palavras, vodca e MDMA ao pop chiclete de antigamente”. Ele cita como grande exemplo disso a cantora Rihanna. 'Umbrella', que a fez despontar para o mainstream, foi composta e produzida por Tricky Stewart, Kurk Harrel e Terius Nash. Tudo que Nash fez foi cantar algumas palavras aleatórias e estava feito o refrão que iria estourar em 2007.
A música precisa ser ainda mais curta
Assim como lhe foi passada a “mágica” do sucesso, Max Martin também repassou seus ensinamentos adiante e o outro grande responsável por esse formato se manter ainda mais dominante, é Lukasz Gottwald, mais conhecido como Dr. Luke. O americano também já realizou trabalhos ao lado do seu mentor e é responsável por emplacar músicas como 'Girlfriend' de Avril Lavigne e 'Party In The U.S.A.' de Milley Cyrus. Mas Luke trouxe algo peculiar para esse formato. Para ele, “as músicas demoravam demais para chegar ao refrão", ou seja, ele percebeu que tinha que chegar ainda mais rápido ao refrão, já que o tempo que as pessoas passavam consumindo música havia diminuído com os anos e que elas precisavam se apegar rapidamente ao que estavam ouvindo. Se você levar essa fórmula a algo mais extremista, uma única forma para inúmeros cantores com letras que não precisam fazer muito sentido (ou tratam o sentimento amoroso de forma cada vez mais infantilizada), chegará em funk carioca e sertanejo universitário, respectivamente.
Com todo esse aparato já pronto, a única coisa que necessita é de um intérprete diferente - isso quando não se utilizam de efeitos para que as vozes fiquem cada vez mais parecidas - e está pronto para que clipes super bem produzidos sejam feitos e que toquem nas rádios incansavelmente. Como já dito aqui antes, o nosso cérebro busca sempre sons que já sejam familiares e assim, passamos a gostar de certas músicas. Cantoras como Rihanna no exemplo supracitado, se transformam em meros fantoches que não transmitem nenhum tipo de identidade ou originalidade, moldando-se sempre de acordo com o que se está na moda.
Dada a tão pouca diversidade de timbres, instrumentos e vozes, fazendo com que esse formato esteja cada vez mais coletivizado e homogêneo, a individualidade do artista morre e assim, também, a sua autenticidade e assinatura na obra. Os únicos caminhos possíveis acabam por ser a recusa a ouvir esses mesmos artistas ou a aceitação por osmose, rendendo ainda mais views youtubísticas e execuções em playlists do Spotify.
Historicamente, a música tende a se reinventar sempre que uma fórmula se desgasta, mas pelo andar da carruagem, irá precisar de muita coragem para que a individualidade e valores que o artista deseja expressar sejam mantidos diante de algo tão burocrático. Precisará de um novo Michael Jackson tão perfeccionista que aponta o dedo e diga: “é assim que quero que seja feito!". E menos gente achando que, como disse Justin Bieber, ligar para o Max Martin é achar que sabe fazer música de verdade.