Imagino que um dos grandes desafios que se possa existir na vida de um músico seja como saber ter domínio do palco. Entender o seu público, fazê-lo responder a música e tentar estabelecer uma conexão entre banda e ouvinte, para se criar uma coisa única e poderosa. Essa presença de palco é um link fundamental para que isso aconteça, especialmente para um nicho tão exigente quanto o público do metal.
Foto: Fernando Pires |
Ainda que a maior parte do público estava no Audio Club na noite de sábado (17) para ver o Arch Enemy, primeiro haveria uma apresentação cabulosa dos americanos do Walls of Jericho. A frontwoman da banda de hardcore impunha a agressividade e raiva do jeito que o som pede. Candace consegue ser versátil ainda que dentro da voz poderosa que o gênero exige. Flutuava entre um gutural de Death Metal e a voz mais rasgada do HC como poucos. Mantendo-se sempre em contato com o público, a vocalista convidava todos para o mosh pit seja através de seus gestos, de discursos diretos entre a pausa de uma música para outra ou com sua presença que mais se assemelhava a um monstro, tamanho poder emanado por Kucsulain e o restante do grupo. Certamente, saíram de lá com mais fãs do que quando chegaram ao Brasil.
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Com pontualidade, o Arch Enemy subiu ao palco iniciando o concerto com o primeiro single do álbum mais recente Will To Power. "Se você quiser o mundo, use a sua mente", um toque de objetivismo na letra da música deixa o refrão ainda mais poderoso e dita todo o ritmo da apresentação logo na abertura. "The World Is Yours" não é a única com mensagem objetiva no set, "The Eagle Flies Alone" também segue na mesma linha. Em um mundo moderno tão perpetuado pelo hedonismo, combinar o espírito de buscar o melhor do potencial humano com o Death Metal é quase impossível dar errado, e os fãs entenderam perfeitamente o recado.
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No fundo, presença de palco é uma forma de comunicação. E Alissa White-Gluz faz isso com propriedade. A canadense captou o que Bruce Dickinson disse uma vez sobre você "buscar conversar com o cara lá do fundo da platéia". Conduzia os seus fãs como uma maestro deve fazer com uma orquestra. Conduziu o seu público para que abrissem rodas ou fizessem o coro de músicas como "My Apocalypse". A música era a unidade central daquilo que conectava uma casa lotada de gente com camisetas pretas.
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