O início dos anos 2000 trouxe uma leva de bandas que dividem as opiniões ainda nos dias atuais. Com uma forte influência do Grunge e New Metal que dominaram os anos 90 dentro do universo rock e metal, o novo milênio trazia a continuidade dessa sonoridade em que a mistura de diferentes estilos musicais segregava e ao mesmo tempo conquistava um grande público. Uma gama de grupos surgiram ou se estabeleceram no cenário; System of a Down, Slipknot, Linkin Park, vinham do caminho pavimentado pelo Korn, Deftones e Limp Bizkit e se tornaram o que talvez tenha sido a última geração de rockstars dentro dos moldes conhecidos - muita fama, mídia e capazes de arrastar uma multidão de gente para os seus shows.
É inserido neste contexto que, em 2003, o Evanescence surge com um álbum que passa longe de reinventar a roda ou ser um alicerce de uma nova vertente do metal que rendesse tantos descendentes como na década anterior, mas prima por fazer músicas bem executadas dentro da sua proposta. Fallen contém elementos encontrados em vários artistas da época e que foram organizados em uma estrutura que dá identidade à banda, deixando a sonoridade bem amarrada e direta. A direção tomada pelos discos posteriores reforçam mais ainda o som típico dos anos 2000 na obra inaugural de Ben Moody e Amy Lee. Ainda que Bring Me to Life, que alçou o grupo ao grande estrelato por conta do filme "Demolidor", se aproxime muito de um Linkin Park com vocais femininos, o restante do disco se aparta de maneira satisfatória, o que exclui a possibilidade de enquadrar o Evanescence dentro do New Metal. Os solos, o uso de programação eletrônica misturado com toques de música erudita, e a clara influência de rock gótico empurram o grupo de Arkansas mais em direção ao chamado Alternative Metal, sem maiores pretensões de fazer algo muito para além disso, e de certa forma mantendo-se fiel ao que fora proposto desde os seus primórdios.
A parte visual dos integrantes, vista pela lente dos dias atuais, reforçam os traços do tempo em que Fallen reinava absoluto no topo de álbuns mais vendidos.
A obra tem seus méritos e verdadeiras qualidades que justificam não ter caído num ostracismo, e muito se deve a voz icônica de Amy - não por coincidência, quem (literalmente) é a cara do álbum. Ela consegue alavancar o restante do grupo com um vocal que eleva a melancolia das letras enquanto suaviza e prepara o ouvinte para a potência de versos e refrões carregados pelo peso das guitarras, atraindo até mesmo quem não suportaria escutar algo que incorporasse qualquer coisa que se aproximasse minimamente do metal. E talvez fosse esse o maior trunfo do Evanescence sobre tantos outros que almejavam ter um lugar ao sol.
Mesmo com um timbre de guitarra que abraça o clichê dos seus tempos, Ben Moody conseguiu enquadrar isso dentro de um contexto em que, quando se é bem executado, não deixa de ser bom. Sendo o maior responsável por moldar a essência do Fallen, é quase impossível não imaginar o que teria se tornado o Evanescence caso estivesse na banda ainda - tanto para bem quanto para mal.
Dificilmente veremos um álbum de estréia ser tão expressivo quando este novamente, e mais ainda, cercado de histórias, polêmicas e atritos (querer saber o que levou Ben Moody e Amy Lee a brigarem é quase tão complicado quanto tentar adivinhar se Capitu traiu Bentinho). Fallen marcou sua época e se mantém relevante, seja pela nostalgia ou pelo rage, nunca será possível entender a história da música em 2003 sem parar para ouvi-lo ao menos uma vez.